


Faiscava como prata nova, recém-polida.
As velhas companheiras, porém, não se intimidavam. Continuavam a exercer sua função com a dignidade de quem sabe o seu valor. A brasa crepitava e corava os enormes nacos que giravam lentamente, movidos pelas antigas engrenagens expostas e sujas de graxa. Vários andares de carne suculenta que podem ser apreciados de qualquer ângulo que se olhe. Ou melhor: podiam. Porque vão aposentar as duas mais tradicionais churrasqueiras da Zona Norte: as da Cadeg, em Benfica.
No seu lugar, um caixote de metal como os que existem em restaurantes 'a quilo'. E crime dos crimes: não duvido que seja a gás. A gás!
No sábado ela já estava lá, ainda desligada (é, porque essas coisas têm até botão de 'on' e 'off').
Por via das dúvidas perguntei ao homem de balcão, como quem não quer nada: 'vão trocar?' e a resposta veio fulminante: 'uma já está até vendida'. Nem tudo está perdido, porque em algum lugar elas continuarão existindo.
É por isso, Anastácia, que mando esta carta. Para registrar o fim de uma era. Agora, quando nos reunirmos ali para a velha cerveja amiga, não teremos o espetáculo visual de outrora, nem a fumaça cheirosa que dominava o ar. Agora é tudo 'limpinho'. Qualquer dia vamos chegar lá e, em vez do boteco, vai ter uma filial do Belmonte."