Demorei, mas volto em grande estilo! Este blog não tem mesmo do que reclamar! Acaba de receber uma de suas mais belas contribuições, um texto delicioso do amigo Alexandre, que sabe-se lá o que anda aprontando no Sul da França a uma hora destas, mas seja lá o que for, certamente o está fazendo com uma taça de vinho na mão e um pedaço de queijo na outra. Companheiro, quero encher minha Perrier de "vin du pays" (que o meu charme "é tudo pose", você sabe), comprar embutidos e me acabar nas ostras!
De "bidon" pelo Sul da França*
Normalmente, quando viajantes brasileiros voltam de uma viagem ao sul da França, chegam cheios de histórias de mansões fantásticas à beira-mar, iates luxuosos e restaurantes estrelados. Com um misto de deslumbre, devaneio e uma pontinha de inveja, falam dos carrões importados, das lojas da moda e das jóias no pescoço das “cocottes”. Mas existe um outro “sul”, que não é o da chique Côte D’Azur, com suas “villas” e seus o milionários russos. Nem o da badaladíssima Cannes ou do exclusivo Cap Nègre, onde o presidente Sarkozy passa os fins de semana na mansão da sogra. Não, Anastácia. Há o sul dos vinhedos, das feiras coloridas e agitadas, das oliveiras e do francês simples e carregado de sotaque, que compra (muito) vinho no atacado e azeite com o vizinho produtor.
Saindo da Espanha e atravessando os Pirineus, chega-se a essa França pela Côte Vermeille. De repente, você se pega circulando, na estrada, entre os “terraços” de vinhedos plantados nos morros e o Mediterrâneo. A partir daí, pode tirar o “bidon” – como eles chamam o nosso galão – da mala para “abastecer” em qualquer “cave” de beira de estrada, normalmente de venda direta do produtor. É só chegar e encher o galão direto dos barris. Vinho bom e barato, como só o interior sabe proporcionar. É a versão francesa do alambique mineiro. Aqui, o orgulho do povo são a uva muscat, chamada de “Pérola do Roussillon”, e o “vin doux naturel”. São vinhos mais doces, bem mais fortes (16º de teor alcoólico, em média) e bebidos como aperitivos. Mas não falta a clássica merlot e o mais barateba, o “vin du pays”, eufemismo local para o clássico vinho de mesa. Na falta do galão, qualquer garrafa pet serve. Para não perder o charme, use uma de Perrier.
Você adoraria as feiras, Anastácia, onde compraria não só suas batatas, mas também os queijos, os embutidos e as azeitonas de todos os tipos: verde, preta, temperada, simples ou sob a forma de “olivadas”, que são pastinhas feitas com diversos tipos de temperos ou apenas misturando a azeitona triturada com um bom azeite extra virgem. As barracas dos “oliviers” são um festival de aromas. Nelas encontra-se também azeite no atacado, além dos temperados e perfumados. E, como estamos à beira-mar, não faltam as ostras frescas e mariscos da estação. E ali mesmo, na barraca ao lado, o viajante mais empolgado que decidir se aventurar no mundo dos vinhedos vai poder levar para casa uma muda de “merlot” ou de “muscat” e se tornar um verdadeiro “vigneron”.
A “siesta” é um direito quase sagrado e nada funciona à tarde. Então, bom mesmo, depois do almoço, é aproveitar a praia para um passeio ou, depois da primavera, quando a temperatura fica mais amiga, se esticar na areia com uma garrafa de rosé, ideal para dias ensolarados e festivos. Do bidon, é claro.
* Por Alexandre Arruda, jornalista e 'bon vivant' nas horas vagas - e nas ocupadas também.