12.4.10

Salve o Zé do Pipo - porque não há originalidade possível


Opa! Finalmente, depois de um bom tempo, segue uma receita desta que vos fala - ou melhor, como diz minha grande amiga Josi, dona do Pastifício Dell'Amore, em se tratando de receita de bacalhau, é difícil não cair na mesmice. Se a mestre-cuca diz isso, eu, amadora que sou, não posso pedir desculpas por não haver originalidade possível em relação ao meu bacalhau de Páscoa. Portanto, sai um Zé do Pipo quentinho, do jeitinho que preparei.

- 900g de lombo de bacalhau seco dessalgado
- cerca de 1,5 de batatas (será que foi tudo isso? tenho dúvidas...)
- maionese (meio pote daqueles grandes). Aqui usamos uma natureba e feita com óleo de girassol, deliciosa.
- salsinha
- cebolas (bastante, cerca de 5)
- alho (uns três ou quatro dentes)
- 1 litro de leite
- manteiga, azeite
- sal, pimenta, obviamente
- iogurte, se quiser

Well, Manoel. Refogue a cebola e o alho em manteiga e azeite, sal, pimenta do reino. Deixe que ela caramelize, se bronzeie, ganhe aquele dourado cheio de promessa. Reserve. Cozinhe o fiel amigo 'baca' no leite. É rápido, não deixe o bichinho se despedaçar todo. Depois, tire as espinhas, as pelinhas e desmanche-o em lascas. Misture com a cebola, mas não leve ao fogo. As batatas, que você cozinhou e tirou as cascas (depois de cozidas) enquanto fazia tudo isso, agora vão para o mesmo leite. Deixe lá no fogo, para ficarem bem macias, porque você vai amassá-las. Faça um purê com manteiga e o mesmo leite. Dê uma temperada na maionese: pimenta, salsinha, azeitonas. Misturei um pouco de iogurte orgânico desnatado para que ficasse um pouco mais 'azedinha' e fluida, você pode tentar o mesmo. Tudo pronto, monte o prato numa travessa que vá ao forno: azeite, uma base fina de purê, bacalhau com a cebolas, maionese, e purê de novo, agora para fechar a tampa. A camadinha crocante em cima é garantida por uma leve barrada de maionese. Forno (rápido, coisa de 10, 15 minutos, para que mantenha a cremosidade). E 'já está', como dizem os nossos amigos (por)'tugas'. Acho que o segredo da receita é um purê cremoso, nada daquela coisa dura. Mande brasa.
* Alô, Fabiana! Você não tinha pedido uma outra receita? Aí está!

5.4.10

Saudades de Amália, na revista Gosto


Finalmente "publico" aqui a matéria que escrevi para a belíssima revista Gosto, em dezembro, sobre Amália Rodrigues: um passeio pela personalidade da maior estrela da cultura portuguesa através das suas preferências gastronômicas. É só clicar nas fotos para ler. Espero que gostem.





1.4.10

Tudo que nos representa

Detesto o tom "professoral", e perdoe se farei uso dele. Mas é rápido, prometo. Faça um exercício e, na próxima refeição, ao escolher o que vai comer, pergunte a si mesmo: por que como isso? Surgirão explicações de várias naturezas, ideológicas, políticas, culturais, psicológicas, éticas, de saúde... Pronto. É apenas um bom começo para deixar de se fazer, mecanicamente, algo que, três ou mais vezes ao dia mantém conexões profundas com o mundo à nossa volta, que é definitivamente afetado e transformado por nossas escolhas. Pode parecer fútil, inútil, falar de alimentação, mas estou mesmo é falando de política, lato sensu - e vamos desenvolver o tema em outro post, e de cultura. Por ora, fiquemos com as questões culturais que envolvem o ato de comer.

Vamos à macaxeira cozida que comi dia desses. Tomei emprestada a frase, para o título deste post, de um grande amigo, Eduardo Marini. Ele sempre repete a bendita quando o assunto é qualquer coisa que se relacione com sua identidade cultural, e de que goste MUITO. Normalmente, atribui aos (e nos) botequins da vida e a tudo que a eles se relaciona, cerveja de garrafa, batatinha calabresa, bolinho de bacalhau. Também cabe quando a conversa (de botequim, claro) é sobre música. Paulinho da Viola, Caetano Veloso "é tudo que me representa".

Lembrei da frase porque, ao sentar para escrever este post, sobre as delícias que uma amiga nordestina preparou (aipim cozido com manteiga, paçoca de carne de sol com feijão fradinho e um mexido de jerimum com charque e cebola), lembrei que a intenção do almoço era justamente fazer com eu me lembrasse um pouco do Brasil. O convite surgiu depois de uma aula no mestrado em que debatíamos a importância da alimentação brasileira para os brasileiros imigrantes. Impossível descrever o quão fundamental é o papel da comida para amenizar as agruras de quem vive longe.

Os que estão fora de seu país não poupam esforços para "arranjar" uma comida qualquer que os aproxime de casa. Para quem não pode bancar uma refeição na rua (sim, só em Coimbra há oito restaurantes especializados em culinária brasileira), resta "contrabandear", pedir para os parentes enviarem pelo correio, exigir que os amigos tragam quando vão ao Brasil. E dá-lhe pacote de pão de queijo Yoki, café Caboclo, carne de sol, farinha de mandioca fininha, feijão preto, doce de leite (porque o daqui "não é igual"), e por aí vai.

Isso ocorre porque o ato de escolher o que se vai comer é uma peça fundamental deste grande mosaico que é nossa identidade cultural. Optar por determinados alimentos e não por outros é dizer: "isso é tudo o que me representa". Comemos macaxeira, aipim ou mandioca, carne de sol, abóbora porque somos brasileiros. E Shirley, a responsável pelas delícias das fotos acima, come e cozinha estes ingredientes sobretudo porque é nordestina (de Natal). No último livro de Massimo Montanari publicado no Brasil, "O mundo na cozinha: história, identidade, trocas" (Senac, 2009), o historiador diz logo na introdução: "Exatamente como a linguagem, a cozinha contém e expressa a cultura de quem a pratica, é depositária das tradições e das identidades de grupo. Constitui assim um extraordinário veículo de autorrepresentação e de comunicação (...)."

Portanto, que os brasileiros não se furtem das macaxeiras da vida, que é como exercer nossa brasilidade, dar ao corpo à mente o que eles precisam para saber a que mundo pertencem.