28.2.12

Seu Fuad, sua picanha macia e os boêmios de ontem e hoje






Seu Fuad, que um amigo meu, na maior cara de pau e sem qualquer intimidade com o próprio, chama de "Fufu", é o dono de um restaurante (Esquina Grill do Fuad) forecedor de um gênero de comida que, se fosse no Rio, eu batizaria de CCC (Comida Carioca de Combate). Como é em São Paulo, podemos chamá-lo de CPC (o P é de paulista ou paulistana, obviamente). E até fica bonitinho neste caso, posto que CPC também era o combatente Centro Popular de Cultura, da UNE, e Fuad, reza a lenda, já deu de comer a muitos "subversivos" nos tempos da ditadura. José Dirceu, por exemplo, seria um deles. O restaurante do Fuad fica pertinho da Escola de Sociologia e Política - e do Mackenzie -, em Santa Cecília. Hoje, ostenta nas paredes dezenas de reportagens enquadradas sobre sua história, todas elogiando a qualidade dos pratos. É um especialista em carnes grelhadas. E são gostosas, embora as batatas e polentas não me apeteçam muito, têm aquele gosto de tempero pronto, qualquer coisa entre o ajinomoto e o sazón. Mas o lugar é agradável, por isso as batatinhas ficam em segundo plano. Peça uma picanha (deliciosa, macia) que leva o nome de "Ronaldo", em homenagem ao Fenômeno; vem acompanhada de agrião (e o que isso tem a ver com o jogador eu já não sei) e manteiga de alho, além da tal mandioca. Nas mesinhas da calçada - numa esquina arborizada - o clima é de festa, leve, e a cerveja de garrafa vem estupidamente gelada. Domingo tem fila de espera, como não poderia deixar de ser em se tratando de um bom restaurante em São Paulo. Recomendo ir à noite, durante a semana, quando o ambiente está mais próximo do original dos idos de 1968: impera a juventude boêmia, e quase não há famílias com crianças. Se encontrar o Fuad, pergunte sobre os velhos tempos.

As saudades que sinto da melhor moqueca do mundo




Já completei mais de um mês de volta ao Rio, ao fim de uma temporada paulistana de muito trabalho, e estou morrendo de saudades da Bel - minha única e querida e linda e fofucha irmãzinha -, do Soteropolitano - o restaurante no qual me sinto mais em casa do que na minha própria sala de jantar -, e, principalmente (Bel, me perdoe desta vez, mas este é um blog de culinária), da moqueca do Julinho Valverde. É a melhor moqueca de São Paulo. É a melhor do Brasil. É a melhor moqueca do mundo. E está em São Paulo, infelizmente. No Soteropolitano. Acordo no Rio de Janeiro todos os dias e penso: "Ok, vamos em frente, hoje será mais um dia sem a moqueca do Julinho". Mas não há mal que sempre dure, já disse alguém, e meu otimismo beira a alucinação. Por isso, rezo para que um dia eu possa entrar na estação General Osório do metrô, em Ipanema, e saltar na Vila Madalena. Com um cartaz nas mãos dizendo "Julinho, cadê você, eu vim aqui só pra te ver".