13.12.09

Caça, Idade Média e outras viagens

Mais uma vez, estamos na Idade Média. E isso não é pejorativo, por favor. Só uma constatação. Nas listas de alimentos que analiso e ando estudando por aqui no mestrado em história da alimentação topo com estes animais o tempo todo: perdizes, coelhos, lebres, faisões (estes eram caríssimos e raros no mercado, já que serviam como grandes auxiliares na caça), pombos, galinhas... Naquele tempo, carne era coisa de gente muito fina. Pobres da cidade e camponeses na Europa cristã, sobretudo a Mediterrânea, raramente comiam. Quando o faziam, eram principalmente de porco e de carneiro. Em Portugal, claro, a sardinha, o "peixe dos pobres", salgada, fresca, em conserva, era companheira de todas as horas e complementava a ração de cereais. Se para nós brasileiros a imagem de um animal assim, in natura, na feira ou mercadinho da esquina, é estranha (vejam o Borough Market aí embaixo), para os europeus é absolutamente normal. E eu já começo a achar que prefiro isso às embalagens de plástico anti-sépticas nas quais todos os pedaços de um animal têm o mesmo tamanho e cor. Desconfiiiiiiio.

7.12.09

Borough Market

Para ver se os amigos perdoam minha falta de vergonha na cara, ou pelo menos esqueçam por alguns segundos que passei quase um mês sem postar absolutamente nada - afinal, isso não é uma blogueira que se respeite, faixfavoire - decidi botar logo uma foto derruba-queixo. Sacada no Borough Market, em Londres [há quase um mês também, verdade seja dita]. É ou não é para se sentir na Idade Média? Só não vou fazer elocubrações sobre elas porque, como a minha ausência neste Anastácia tem provado, tá feia a coisa pro meu lado. O tempo "ruge"!

15.11.09

Londres, A Cidade





Com as minhas desculpas pela ausência durante este tempo, aí vão algumas imagens da incursão desta Anastácia por outras paragens, lá de cima, d'A Cidade, a capital do mundo globalizado, Londres. E como tal, não poderia deixar de ser: ela me ofereceu um festival de junkie food. É disso que gosta. Sausages, hamburgers, donuts, fish and chips. Diria que é quase impossível escapar. Mas seria uma injustiça sem tamanho dizer que Londres é só isso. De jeito nenhum. Para mim, foi uma experiência gastronômica surereendente e inesquecível. A começar pelo Bourough Market, talvez o mercado mais sensacional que já conheci. Mas isso é outro assunto...

1.11.09

Meus bolos de aniversário




Uma tarta de Santiago de Compostela e uma sobremesa com o nome singelo de bolo de bolacha. As duas no Porto, as duas em companhia da amiga Mari Filgueiras - nos encontramos mais uma vez, agora na terra dos "tripeiros" (são chamados assim porque são comedores de Tripas à Moda do Porto, olha que gracinha). Mari saiu de Santiago, onde faz o mestrado, para me encontrar. Levava a tarta Santiagüina debaixo do braço. Aliás, ela só podia ser amêndoas - Santiago é na Galícia, no Norte da Espanha, bem próxima ao Norte de Portugal. Um dia foram a mesma região, sofreram a dominação dos romanos, dos visigodos, dos árabes. Por fim, foram reconquistados pelos cristãos. Têm um passado em comum e, claro, cultura parecida. Por isso, não surpreende que a minha tarta de aniversário seja como os doces dos conventos portugueses - amêndoas, açúcar, farinha, ovos. Já o bolo de bolacha foi uma espécie de revival. Estive no restaurante Ora Viva há quatro anos, e nunca mais esqueci o sabor deste doce. Voltei, finalmente, e estava lá ela, gostosa como da última vez. Não me lembrava extamente as razões de ter gostado tanto. Continuo não sabendo exatamente, porque o bolo leva café, do qual não sou muito fã em doces. Vai ver é destas coisas que a gente não explica. Um parênteses um tanto quanto brega e óbvio, mas necessário: o lugar, a companhia, o estado de espírito, tudo ajuda a tornar um prato ótimo, ruim, mais ou menos. Dei sorte nas duas vezes em que estive no Ora Viva - aliás, ele merece um post único, farei isso.

Aniversário 2: Obrigada, Felipe e Josi, amigos queridos, pela homenagem. Mais um ano juntos (ainda que separados)... Gente, o blog deles é demais, coisa de quem entende MESMO de comida, não tá só de brincadeira, como eu (http://pastificio.blogspot.com/). E aqui vão lindas palavras frase do Leminski, orgulho curitibano, para celebrar nossa amizade:

Meus amigos quando me dão a mão
Sempre deixam outra coisa
Presença
Olhar
Lembrança
Calor
Meus amigos quando me dão a mão
Deixam na minha a sua mão

27.10.09

A tasquinha do Chico

Fofo, não? Não tem nome, é simples assim: "Almoços e jantares". Acho que meu amigo Chico Silva, se cá estivesse, sentaria ali, pediria uma bagaceira e passaria horas a divagar sobre a alma lusitana, os poetas, o fado, o bacalhau, e as sardinhas, e os tremoços, o Tejo, e o Mondego, a saudade... ah, sim, e o Santos, o Benfica, o Santos, o Sporting, e o Santos...

É grave a crise...


Que marolinha, o quê... a seção de culinária numa livraria da cidade do Porto mostra que o bicho pegou mesmo por aqui. Ah, mas nessa hora, a colega Filipa, que assina um dos livros aí em cima, não passou sufoco: a moça já nasceu bem acompanhada, pelo menos no sobrenome.

25.10.09

Sobre o podrão (do Porto), algumas considerações



Este cachorro-quente - para os cariocas, o popular "podrão", e para os curitibanos, o "dogão" ou ainda, quem sabe, simplesmente o "pão com vina"... enfim, o aposto desta vez foi tão grande que perdi o fio da meada. Vamos lá, de novo. Este cachorro-quente foi traçado numa praça da cidade do Porto, lá pelas tantas da madrugada, quase dia claro, em excelente companhia de uma grande amiga. Ou seja, exatamente como devem ser traçadas estas igua(porca)rias que só fazem bem à nossa alma, e depois podem nos custar o sono. A receita do podrão por aqui é inspirada nas nossas, leva batata palha, milho verde, estas coisas - mas este aí tinha ainda uma cenourinha, que é excelente ideia, já que bota lá umas vitaminas e dá uma crocância gostosa. Outra boa ideia que os podrões brasileiros podiam copiar: pendurar tetas gigantes como as da foto, cheias de maionese, catchup, mostarda para facilitar a vida do cliente. E para terminar, que fique bem claro: eu não acho que ninguém deva consumir estas merdas, por favor. Mas a salsicha sai do corpinho, mais cedo ou mais tarde e seja lá de que forma, como tudo mais que entra pela boca. Portanto, já que alimento também deve ser bom para o espírito e o coração, de vez em quando, desde que em determinadas condições (fome, madrugada, bons amigos, bagunça), um podrão bem traçado no meio da rua não faz mal nenhum.

20.10.09

Para Eduardo, o Pecado da Gula


Uma foto de presente para meu amigo Eduardo 'Claret' Marini, que é, ele sim, um verdadeiro doce, e escreveu sobre este blog e esta que vos fala palavras que nenhum dos dois jamais mereceram. Claret, para você, um delicioso pastel de nata - que, você bem sabe, no Brasil chamamos 'pastel de Belém', mas cá em Portugal só há um com este nome, aquele feito em Belém mesmo e sobre o qual já falamos aqui. Os outros todos, os 'de nata', são 'genéricos'. E para acompanhar, um trecho maravilhoso de um texto de D. Duarte, "Leal Conselheiro", extraído do livro "A arte de comer em Portugal na Idade Média", um clássico do professor Salvador Dias Arnaut (Colares Editora, Sintra, Portugal). Lá vai, prepare-se:
"Do Pecado da Gula
Sumariamente em quatro partes o pecado da gula se ode partir. Primeira, que hora razoada, conveniente ou ordenada para comer não quer aguardar. Segunda, que o ventre de comer ou beber deseja sobejamente encher. Terceira, que viandas e beberes estremados (sic) cobiça sempre usar. Quarta, que sobejamente com grande folgança e glória faz comer e beber para elo perceber e aparelhar. Da primeira nasce desobediência, e apartada conversação de boas pessoas, e isto por não guardar dias de jejuns, bons conselhos e costumes. Da segunda, luxúria e destemperança do entender, e do corpo muitas enfermidades. E para todo o bom saber muita rudeza. Da terceira vem aos religiosos não consentir que vivam na pobreza que prometeram, porque se trabalham de ter com que satisfaçam ao que desejam. E aos que riquezas podem possuir, faz ser pobres, mal as despendendo em custosas viandas e vinhos que bem escusar, se temperados fossem, poderiam. Da quarta vem fazer deus do seu ventre, não havendo tanto desejo continuado pensamento de prazer ao senhor como a ele, e aos gargantões convém não guardar hora conveniente, e sobrejo comer e beber."
Para ler Eduardo Marini, http://blogs.r7.com/eduardo-marini/

14.10.09

Pastelaria Vênus




Ai, quando me disseram que a melhor pastelaria da cidade ficava ao lado da minha nova casa... ainda não sei se é de fato a melhor de Coimbra, mas deve ser forte concorrente. Antes de mais nada, cabe avisar que pastelaria, em Portugal, é o que podemos chamar de padaria (embora nem todas vendam pão). O termo pastelaria aqui é usado no seu significado técnico gastronômico: trata-se do universo dos doces - e aqui também salgados, desde que pequenos, como os rissóis e pastéis (nossos risoles, bolinhos, etc.). Portanto, uma pastelaria portuguesa não é o lugar especializado na produção e venda de pastéis naquele formato clássico que conhecemos e tanto amamos no Brasil. Outra característica bastante comum das pastelarias por aqui é o fabrico próprio. Ah, sim, e os pequenos pastéis são vendidos frios (e eu não vejo o menor problema, já me acostumei). Mas voltemos à Vênus, pelamordediós, que este parênstesis ficou grande demais, ufa.
Na foto, um pastelzinho de bacalhau (milagrosamente quente - acho que dei sorte de pegar a fornada recém saída) e um rissol de camarão - desta vez, frio. Destaque para o bolinho, ops, pastel: textura cremosa, amanteigado, um sabor levemente adocicado por cebolas, gostinho de pimenta do reino... Nada de azeite, desnecessário. Domigo de sol, sentadinha do lado de fora, um chocolate quente, jornal e sem mais para o momento. Abraço.
Pastelaria Vênus
Al. Calouste Gulbenkian 31-RC, Coimbra, Portugal‎


13.10.09

Comida de estudante

Mais uma para a coleção “estou-feliz-aqui-porque-como-bem-e-gasto-pouco”: o refeitório central da Universidade. Aqui, além de ter comida farta e boa a preços praticamente simbólicos, o cardápio varia diariamente e há opções para todos os gostos. Pão, sopa, peixe ou carne, guarnição, salada, água e uma fruta custam 2,15 euros. Se quiser um “sumo natural”, quase sempre de laranja, vai desembolsar mais alguns centavos. Na foto, pescada com arroz integral de tomates e cenoura, maçã, sopa. Meu primeiro prato neste bandejão foram sardinhas com batatas, simplesmente deliciosas, unanimidade entre os que compartilharam a mesa comigo. Ou seja, “tá-se muito bem”!

12.10.09

Jeitinho brasileiro





Foi só dizer que Anastácia já se sentia em casa em Coimbra que o Brasilzão Véio começou a dar as caras por aí. É coxinha, brigadeiro, pão de queijo... uma farra. Comida típica brasileira também não falta, picanha, feijoada. Não experimentei absolutamente nada, ok?, minha filosofia não permite. Além disso, convenhamos: acabo de chegar, ainda preciso me entupir de bacalhau, bifanas e outras cositas más. Se bem que a coxinha tá com uma cara boa...

Duas bochechas e algumas tascas




O primeiro fim de semana por aqui não podia ter sido melhor: recebi a visita de uma bochecha amiga e feliz, Mariana Filgueiras, que anda tomando ares em Espanha, e partimos em aventuras pelas cozinhas de Coimbra. Começamos traçando sardinhas lindas numa pequena - mas muito pequena mesmo - tasca na zona histórica da cidade, perto da Universidade. Aliás, a cidade é generosa com os estudantes de poucos tostões: por um prato cheio de sardinhas no azeite, com pães e cerveja pagamos pouco mais de 4 euros (quase R$ 12,00). Seguimos rumo ao famoso “café com um docinho”, e escolhemos gemas e açúcar em forma de queijadinhas. Uma boa caminhada pela cidade nos levou a um restaurante indiano (um dos poucos que ainda estava aberto no fim da tarde), onde cada prato de bacalhau com batatinhas ao murro nos custou 6 euros (quase R$ 18,00). No outro dia, sapateira – eles gostam bastante disso por aqui: 8 euros por uma sapateira carnuda, martelada com gosto, acompanhada de um molho feito da sua própria carne e pão. Prefeito. Mas sinceramente? Amei, principalmente, a companhia. Aliás, nada é por acaso: a revista de culinária mais popular por aqui se chama... Mariana (na foto, ela e ela mesma). Volte sempre, bochechuda!

As vendinhas XVII

Pêras e maçãs, as frutas mais queridas dos portugueses, numa vendinha da Baixa de Coimbra. As varidades de maçãs são muitas, e todas de tamanho pequeno. O mesmo acontece com as pêras, pequeninas e saborosas.

7.10.09

Anastácia em Coimbra!

Anastácia finalmente se sente em casa em Coimbra! Hoje, ao dobrar uma esquina, dei de cara com uma vendedora de mudas e flores, e lá estava esta plantinha linda: Anastasia Green. Ainda sem as flores - me parece que se trata de um crisântemo -, o que pode significar que o melhor ainda está por vir. Chegamos, Anastácia e eu, há pouco mais de uma semana na terra de Pedro e Inês, para o mestrado em Alimentação: Fontes, Cutura e Sociedade na Universidade de Coimbra. Vai ser "fixe" (=legal), estamos certas. Portanto, vida longa a Anastácia Lusitana!

15.9.09

Risoto Tricolor

O prato ganhou este nome porque foi improvisado, lembrou Ramiro na última hora, no dia do aniversário do Chico Buarque, torcedor do fluminense - assim como meu amigo Felipe, diga-se, ambos muito queridos, e provavelmente bastante chateados com os últimos capítulos da novela tricolor. Enfim, o risoto, que sem querer virou homenagem, leva salmão defumado, ervilhas e cream cheese - bem pouquinho deste último, está lá mais pela cremosidade -, além dos ingredientes básicos de um risoto, claro - manteiga, cebola, queijo ralado, vinho branco... Foi sucesso aqui em casa.

30.7.09

Crepe de Doce de Leite


Para nos salvar do marasmo dessa vida, um balde de dulce de leche argentino. É a especialidade dos hermanos. É um espetáculo. É inesquecível. Afe.

25.7.09

Pasta!


Duas massas deliciosas de Brasília - macarrão com picadinho do Carpe Diem e ravióli de bacalhau do Dom Francisco. A segunda é melhor que a primeira, e as duas são deliciosas. Acabo de ler "De Caçador a Gourmet - Uma história da Gastronomia", de Ariovaldo Franco (Editora Senac), e diz ele que, até hoje, não se sabe ao certo a origem do macarrão: "A afirmação de que os italianos só teriam começado a preparar pasta depois que Marco Polo voltou do Oriente carece de fundamento. Muito antes ela já fazia parte dos hábitos alimentares da Itália. Por outro lado, há esculpidos em túmulo etrusco utensílios para a confecção de pasta. Também existe a hipótese de que os sarracenos a tenham introduzido na Sicília, depois de terem aprendido a prepará-la com as caravanas persas que chegavam até a China. Sua origem, entretanto, permanece controvertida."

2.7.09

"Por quem os cardápios dobram"

Conheça Mark Kurlansky (seu livro "A Grande Ostra - Cultura, História e Culinária de Nova York" acaba de ser lançado no Brasil) , em entrevista de Cíntia Bertolino, no Paladar: http://tinyurl.com/m2sbsj

28.6.09

Vatapá paraense


A comida do Pará me pegou de jeito desde que estive em Belém. Com saudades, corri dia desses para a feira da Torre de TV, aqui em Brasília, que abriga uma barraca de delícias paraenses. Já tinha tomado o tacacá no mesmo lugar, quando minha querida amiga Juliana bateu asas pela cidade, e achei bom - embora pudesse ter menos goma e mais tucupi. Voltei para provar o vatapá paraense, sentada na barraca, no melhor estilo Ver-o-Peso. Cervejinha gelada, pimenta brava e farinha, pronto, não precisa mais nada. Só um solzinho gostoso de domingo.
(Aliás, a feira é diária, mas as barracas de comida só abrem aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30).