23.6.09

Bargaço

Logo na entrada, a placa anuncia "O melhor pescado do Brasil". Trata-se do Bargaço, de Brasília. Eu não concordo, mas... a propaganda é mesmo a alma do negócio. O restaurante é badaladíssimo, ganha todos os prêmios de melhor pescado, ano após ano, das revistas especializadas. Mas se posso dizer o que penso já que este blog é meu, o negócio é o seguinte: a moqueca e o acarajé, os dois pratos que provei., desculpe, deixaram a desejar, embora a apresentação seja interessante. Peixe e camarões nadavam num balde de caldo - um exagero, e o sabor do dendê era muito sutil para uma moqueca. O preparo leva água demais. O acarajé, de entrada, é grande - mas até aí tudo bem, deixemos de lado o fato de que uma entrada não deve ser algo que nos sacie. O problema maior era o vatapá, insosso - apesar da cor e aspectos belíssimos. O mesmo vale para o pirão. Acho que a intenção do Bargaço é agradar a gregos e troianos, ao amenizar os sabores fortes da culinária baiana. E deve conseguir: o restaurante está sempre lotado.

Agora um pouco de elogio: o lugar é lindo. Instalado no Pontão, uma espécide praia de Brasília, na beira de um lago. Bastante agradável. Além disso, eu voltaria ao Bargaço, não só porque toda moqueca baiana merece uma segunda chance, mas também para experimentar outros pratos, que vi passando rumo a outras mesas, como uma linda lagosta e o bobó de camarão. Anastácia ainda publicará o Bargaço II.

22.6.09

Pirenópolis III - e chega.


Broinha quentinha, no Café Pirineus, na Praça do Coreto. Não fiz fotos do café gelado, mas é imperdível. Sem mais para o momento.

Pirenópolis II



Pirenópolis I






Hoje ouvi de um carioca debochado um cometário irônico, "vá passear em Pirenópolis para você se lembrar de Búzios". Quem tem um amigo como esse não precisa... enfim. Mas a pequena Pirenópolis é uma graça, embora não seja Búzios, que é mais linda ainda que a Côte D'Azur - e esse comentário não faz qualquer sentido, já que praia é praia e mato é mato. Pirenópolis é mato, cachoeira de água gelada e muita comida caipira. Alguém já disse, e eu arriscaria Darcy Ribeiro - mas se não for ele, eu não disse nada -, que o Brasil caipira é todo igual, já tem a mesma formação, e não importa se estamos no interior de São Paulo, Minas ou Goiás. Sendo assim, posso dizer que Pirenópolis é uma grande Ribeirão Preto, e seus cowboys não deixam nada a desejar aos do interior paulista, e não vamos esquecer da arquitetura colonial no melhor estilo Ouro Preto. A porção Goiás fica por conta dos goianos, que... bem, os goianos habitam a cidade.
Este restaurante aí de cima é um tal de Oxente Uai, cujo nome revela a especialidade, ou as especialidades, da casa - comidas nordestina e mineira. A galinha capiria com ora pro nobis, uma espécie de couve que os mineiros adoram, é um espetáculo. Aliás, uma salva de palmas para todas as galinhas caipiras do mundo. Salve as bichinhas! O restaurante é lotado de turistas, mas em Pirenópolis é difícil escapar deles - eu diria impossível, aliás. A música ao vivo é altíssima, dispensável. Mas nada que umas garrafas de cerveja e uma boa comida caseira não nos façam esquecer.

18.5.09

Mercadinho La Palma




O site oficial da "vendinha" não tem meias palavras: La Palma é o "paraíso do gourmet". Devo dizer que, de fato, é um senhor mercadinho. Um lugar gostoso, aconchegante, daqueles que a gente entra e não quer mais ir embora... Tomo emprestados trechos de um texto publicado na página virtual, assinado por Rogério Muniz:

"O La Palma é uma empresa com aproximadamente meio século de existência, sendo uma das lojas mais tradicionais no ramo da gastronomia em Brasília. (...) é um empório sortido onde podem ser encontrados desde hortifrutigranjeiros até queijos, frios e os mais finos vinhos das melhores safras. Não é por acaso que os paladares mais refinados da cidade costumam encontrar-se no La Palma, principalmente nas manhãs de sábado. Empresários, políticos, jornalistas, autoridades, professores e anônimos chegam querendo conhecer e provar o que há de novo no mercado, e divertem-se trocando receitas e contando sobre suas experiências na cozinha. Fazendo do lugar um típico clube de esquina, movimentado e alegre."

La Palma
402 Norte / 403 Sul

11.5.09

Vai um queijinho aí?

Queijo brie com geléias de pimenta e laranja, uma colaboração deliciosa de Fernanda Delmonte -de quem espero mais colaborações, plis.

6.5.09

Restaurante Pequim





A saga de Anastácia pelos bons e baratos de Brasília continua. Achei mais um, o Restaurante Pequim, na 405 Norte. É coisa boa - e baratíssima! Destaque especial para a salada de picles, super picante, e para a banana caramelizada. Comi shopsuey de carne e arroz colorido, ótimos. E o melhor de tudo: entrada, pratos, cerveja, sobremesa e café para duas pessoas saíram por módicos R$ 50,00. Detalhe: é comida que não acaba mais. Coisa para barnabé nenhum botar defeito. Se na sua repartição não tiver rede, prefira jantar. Anastácia recomenda.
Restaurante Pequim
CLN 405 Bloco C s/n, Loja 15, Brasília
Telefone: 61-3347-1044

Gigetto




Certamente Plínio Marcos não hesitaria em comer este prato inteiro, mas exigente que era, não ia gostar muito, não. Aposto. O Gigetto, onde o dramaturgo tinha mesa cativa - e tenho orgulho de dizer que nela jantamos eu, ele e Vera Artaxo, nos meus tempos de repórter de IstoÉ -, definitivamente não é mais o mesmo. Só vá se quiser conhecer o lugar, um histórico ponto de encontro de artistas e da esquerda em São Paulo, mas fique só no couvert e peça uma garrafa de vinho. Estivemos lá num grupo de quatro pessoas, e nenhum prato pedido agradou a qualquer um de nós. É triste quando isso acontece em lugares simpáticos e tradicionais - a casa já tem 70 anos. Mas a vida é dura mesmo. Se for ao Bexiga para comer, escolha outro restaurante.
Gigetto
Rua Avanhandava, 63, Bela Vista, São Paulo
Telefone: 11-3256-9804

Chico & Alaíde




Minha ansiedade para conhecer o boteco Chico e Alaíde, inaugurado em fevereiro, era imensa, e lá estive há alguns dias, finalmente. Mas, siceramente?, sobre as comidinhas não posso fazer mais que só postar estas poucas fotografias tiradas com sacrifício. Explico: a noite por lá foi muito boa, se é que você me entende. O que quer que eu diga serão apenas impressões. Mas, sabendo que Alaíde tem a melhor mão do Rio, é de se imaginar que tudo estava delicioso. E não me peça mais detalhes. Traçamos um "totivendo", o escondidinho ao contrário que só se come lá (na primeira imagem, lá em cima). A foto do sanduíche sugere que se tratava de um suculento pernil com queijo e tomate - eu sempre prefiro os pernis molhadinhos, e me parece ter sido o caso deste aí.
Agora, posso dar com fidelidade minhas opinições sobre o ambiente. O lugar peca pela limpeza em excesso, é tudo clean demais para um botequim, se é que você me entende mais uma vez, e a luz ilumina mais que o necessário. Afinal, boemios não precisam enxergar muita coisa, acha todos os gatos pardos mesmo. Apesar disso, o Chico e Alaíde tem algo que faz dele um Grande Boteco, algo que não se explica: um espírito de boemia no ar, um piso que atrai feito ímã, gruda os pés da gente no chão até às 4 ou 5 da manhã. Sendo assim, acho que podemos elevá-lo à categoria de "ante-sala do Demônio". É da estirpe de Jobi, Filial, São Cristóvão, se é que você me entende mesmo. Seja bem-vindo.

Chico e Alaíde
esquina de Bartolomeu Mitre com Dias Ferreira, Leblon, Rio de Janeiro
Telefone: 21-2512-0028

Mandacaru, na Feira de São Cristóvão





Os cariocas chamam a Feira de São Cristóvão de "Feira dos Paraíbas" (alcunha que paulistas considerariam politicamente incorreta, mas no Rio, pasmem paulistocêntricos, é só um apelido carinhoso). Fato é que a feira - aliás, por feira entenda-se um gigantesco pavilhão cheio de barracas-lojas, "boates" e restaurantes - é uma verdadeira sede de 'Bius', os codinomes de severinos paraiBANOS, baianos, cearenses, pernambucanos na Cidade Maravilhosa. E sem mais sobre a própria feira porque já falei dela aqui mais de uma vez. Vamos às ementas. Como frequentadora assídua do lugar que sou, já estive em vários restaurantes, e agora foi a vez do Mandacaru. Já tracei pratos melhores de comida nordestina, mas ainda assim, recomendo - vale pelo ambiente colorido, alegre e divertido (e é preciso gostar de forró, o restaurante fica perto de um dos dois palcos do Pavilhão, onde a música não para). A carne de sol com aipim, baião-de-dois, molho à camapanha e tudo mais (R$ 45,00 para três muito bem servidos) vale o custo-benefício, mas não se lambe os beiços, longe disso, embora os acompanhamentos não deixem a desejar. Fiquei deveras irritada com o aipim cozido um pouco duro, mas pode ser perfeccionismo meu mesmo. Se não gostar de nada, beba muita cachaça para esquecer, por R$ 4,00 a dose (Salinas gelada). Antes de sair, peça o chapéu de boiadeiro do dono emprestado e pose de corno para a posteridade.

Sobre a feira, leia a descrição da Riotur:
"Um pedaço do Nordeste no Rio de Janeiro. Assim pode ser definido o Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, onde funciona a tradicional Feira de São Cristóvão. São cerca de 700 barracas fixas que oferecem as várias modalidades da cultura nordestina: culinária típica, artesanato, trios e bandas de forró, dança, cantores e poetas populares, repente e literatura de cordel. Visitar a Feira de São Cristóvão é um programa que atrai cerca de 450 mil visitantes por mês, entre turistas e cariocas. O preço da entrada é mínimo e o local oferece boa infra-estrutura, com pistas de dança, palcos para shows, 35 restaurantes de culinária nordestina, lojas de venda de artesanato, banheiros públicos e estacionamento."

Campo de São Cristovão
Tel: (21) 2580-0501
De terça a quinta, 10-16h / de 10h de sexta às 22h de domingo

26.4.09

Soteropolitano



Diz o folclore que, certa vez, a Veja São Paulo elogiou o Soteropolitano. O restaurante lotou no mesmo domingo. Saía gente pelo ladrão. Aliás, só saía pelo ladrão quem conseguia entrar, porque a fila lá fora era grande. Os dois ou três garçons nunca tinham visto tanta gente. Eis que Júlio Valverde, o chef-músico-arquiteto, nervoso com a confusão, já suado, com a cabeça que mais parecia uma panela de pressão, surge na porta da cozinha e responde a alguém que insistia em pedir pressa no atendimento: "Ah, porra, eu não fiz restaurante para encher!" Isso é Julinho Valverde. Baiano, né?

Uma tarde de sábado no Soteropolitano lava a alma. Enquanto a voz gostosa de Juliana Valverde e o batuque do pai-chef Júlio espalham o samba pelo quintal, a gente come arrumadinho e moqueca (que pode ser de arraia, badejo, com ou sem frutos do mar, tem até moqueca de ovo!, e comem três pessoas), se embriaga um pouco de um caipirinha deliciosa, espanta os males. Sem pressa. Por isso fiz do Sotero minha segunda casa em São Paulo. Por isso fiz daqueles "soteropaulistanos" meus amigos de verdade. Mas, principalmente, fiz do Julinho meu chef-amigo preferido. E do seu purê de abóbora japonesa, que acompanha a carne de sertão, um dos primeiros da minha lista de inesquecíveis. Porque, como diz Ramiro, "o homem dá para arquiteto e músico", mas na cozinha é imbatível. Na última vez que estive lá, ouvi alguém dizer "esta casquinha de siri é a melhor que já comi na vida": mais uma declaração de amor para a sua coleção, Julinho. O Sotero é imperdível. E sem mais para o momento. Só a música de Gilberto Gil em homenagem a Caymmi, que, alguém me explica?, me faz lembrar o mestre Júlio:

Dorival é um Buda nagô
Filho da casa real da inspiração
Como príncipe, principiou
A nova idade de ouro da canção
Mas um dia Xangô
Deu-lhe a i-luminação
Lá na beira do mar (foi?)
Na praia de Arma-ção (foi não)
Lá no Jardim de Alá (foi?)
Lá no alto sertão (foi não)
Lá na mesa de um bar (foi?)
Dentro do coração


Soteropolitano
R. Fidalga, 340 - Vila Madalena, São Paulo, SP
Telefone: 3034-4881

25.4.09

Faisão Dourado





Brasília é diferente, e o pé-sujo aqui, não seria diferente, com o perdão da repetição (e da rima): causa estranhamento, como a própria cidade. Senão não estaria em Brasília. Fui apresentada pelo amigo Claudio Eugênio ao Faisão Dourado, um pé meiosujo-meiolimpo de responsa que não foge à regra. O ambiente é, digamos, esquisito. Cadeiras de plástico amarelas, que particularmente me irritam. Acabam com qualquer romantismo possível que se pode numa relação com um boteco. Mas, afinal, estamos em Brasília. Não dá para exigir muito neste sentido. O que importa é que o Faisão Dourado não decepciona, apesar do ambiente amarelo. Daqueles que põem na mesa comida brasileira-brasileira, preto no branco, carne de primeira, batata-frita sequinha, farofa gostosa. Para completar, a cerveja é de garrafa. Pode chegar.
Faisão Dourado
314 Sul - Bloco D - Asa Sul - Brasília - DF - (61) 3245-6521

20.4.09

De "bidon" pelo Sul da França*





Demorei, mas volto em grande estilo! Este blog não tem mesmo do que reclamar! Acaba de receber uma de suas mais belas contribuições, um texto delicioso do amigo Alexandre, que sabe-se lá o que anda aprontando no Sul da França a uma hora destas, mas seja lá o que for, certamente o está fazendo com uma taça de vinho na mão e um pedaço de queijo na outra. Companheiro, quero encher minha Perrier de "vin du pays" (que o meu charme "é tudo pose", você sabe), comprar embutidos e me acabar nas ostras!

De "bidon" pelo Sul da França*

Normalmente, quando viajantes brasileiros voltam de uma viagem ao sul da França, chegam cheios de histórias de mansões fantásticas à beira-mar, iates luxuosos e restaurantes estrelados. Com um misto de deslumbre, devaneio e uma pontinha de inveja, falam dos carrões importados, das lojas da moda e das jóias no pescoço das “cocottes”. Mas existe um outro “sul”, que não é o da chique Côte D’Azur, com suas “villas” e seus o milionários russos. Nem o da badaladíssima Cannes ou do exclusivo Cap Nègre, onde o presidente Sarkozy passa os fins de semana na mansão da sogra. Não, Anastácia. Há o sul dos vinhedos, das feiras coloridas e agitadas, das oliveiras e do francês simples e carregado de sotaque, que compra (muito) vinho no atacado e azeite com o vizinho produtor.

Saindo da Espanha e atravessando os Pirineus, chega-se a essa França pela Côte Vermeille. De repente, você se pega circulando, na estrada, entre os “terraços” de vinhedos plantados nos morros e o Mediterrâneo. A partir daí, pode tirar o “bidon” – como eles chamam o nosso galão – da mala para “abastecer” em qualquer “cave” de beira de estrada, normalmente de venda direta do produtor. É só chegar e encher o galão direto dos barris. Vinho bom e barato, como só o interior sabe proporcionar. É a versão francesa do alambique mineiro. Aqui, o orgulho do povo são a uva muscat, chamada de “Pérola do Roussillon”, e o “vin doux naturel”. São vinhos mais doces, bem mais fortes (16º de teor alcoólico, em média) e bebidos como aperitivos. Mas não falta a clássica merlot e o mais barateba, o “vin du pays”, eufemismo local para o clássico vinho de mesa. Na falta do galão, qualquer garrafa pet serve. Para não perder o charme, use uma de Perrier.

Você adoraria as feiras, Anastácia, onde compraria não só suas batatas, mas também os queijos, os embutidos e as azeitonas de todos os tipos: verde, preta, temperada, simples ou sob a forma de “olivadas”, que são pastinhas feitas com diversos tipos de temperos ou apenas misturando a azeitona triturada com um bom azeite extra virgem. As barracas dos “oliviers” são um festival de aromas. Nelas encontra-se também azeite no atacado, além dos temperados e perfumados. E, como estamos à beira-mar, não faltam as ostras frescas e mariscos da estação. E ali mesmo, na barraca ao lado, o viajante mais empolgado que decidir se aventurar no mundo dos vinhedos vai poder levar para casa uma muda de “merlot” ou de “muscat” e se tornar um verdadeiro “vigneron”.

A “siesta” é um direito quase sagrado e nada funciona à tarde. Então, bom mesmo, depois do almoço, é aproveitar a praia para um passeio ou, depois da primavera, quando a temperatura fica mais amiga, se esticar na areia com uma garrafa de rosé, ideal para dias ensolarados e festivos. Do bidon, é claro.

* Por Alexandre Arruda, jornalista e 'bon vivant' nas horas vagas - e nas ocupadas também.