27.3.10

A carne não é fraca


Iris Palhas traçou com prazer um sanduíche recheado de patê de cogumelos, alface e semente de linhaça enquanto dava esta entrevista. Soa 'natureba'? Pois então saiba logo o que interessa: Iris nunca comeu um pedaço de carne em todos os seus 27 anos de vida. Um mísero bife, uma fatia, um naco sequer. Nada. É um caso raro, por isso, musa absoluta dos seus colegas de 'ovolactovegetarianismo', e filha e neta de vegetarianas (o que explica uma boa parte do fenômeno).

Iris é lisboeta, formada em Eco-Agroturismo e não conhece ninguém com um histórico de renúncia à carne como o seu (tampouco eu e, muito provavelmente, você), mas sabe que "existem alguns muito poucos em Portugal". É uma jovem alegre, sorridente, agitada, faladeira, engajada, militante - prega aquilo que pratica, mas não se engane, Iris não é inconveniente. Pelo contrário. Sobre as razões que a levaram a manter seu vegetarianismo mesmo quando já podia escolher o que comer, foi tão poética quanto evasiva: "Apenas fico contente por estar viva, correr, pular, me divertir e ser feliz sem precisar matar e comer animais". Leia a entrevista de Iris a esta blogueira e, depois, belisque um pastel de tofu preparado por ela e anote a receita - aliás, a moça cozinha e muito bem. Portanto, fique à vontade.

A pergunta óbvia: como você chegou até aqui sem comer carne, sequer na infância?
Sou a terceira geração de vegetarianos da minha família, fui educada assim. Não sei dizer as razões que levaram minha avó a ser vegetariana, sei apenas que nasci com isso. Já aconteceu de eu comer sem querer uns pedaços de peixe numa sopa. Aliás, caldos em geral podem ser perigosos...

E quando começou a crescer, questionou, pensou em desistir...?
Pensei. Até ir para a escola, ser vegetariana para mim era normal, era simplesmente a minha alimentação de casa, do dia-a-dia. Mas os colegas perguntavam, achavam estranho, então passei a questionar também. No entanto, resisti. Depois, aos 19 anos, já na universidade, questionei a sério, eu me perguntava se não devia pelo menos experimentar, conhecer. Fui procurar entender melhor o vegetarianismo, estudar, ler, ver filmes, saber se podia me causar problemas. Foi aí que me engajei de verdade, me tornei consciente. Hoje me considero vegetariana por opção, por razões ecológicas e outras, mas principalmente porque não gosto da ideia de comer animais - afinal, nós, seres humanos, também somos animais.

Você se sente diferente dos outros, de todas pessoas que conhece, por nunca ter provado um pedaço de carne?
Sim, me sinto diferente. Este é o aspecto mais importante da minha vida, da minha educação, da minha profissão. Se eu não fosse vegetariana, seria uma pessoa totalmente diferente. É no fato de não comer carne que baseio todas as minhas escolhas, da comida aos lugares que frequento, livros que leio, tudo. É a minha maneira de ver o mundo.

Imagino que não seja fácil ser vegetariana neste mundo. São muitos percalços?
Depende. Já tive que trabalhar fazendo compras para um restaurante e me sentia indisposta na ala das carnes do supermercado, por exemplo. Posso ter problemas para comer fora, mas é raro. E nunca deixei de ser convidada para a casa das pessoas... porque também como de tudo, não sou aquela vegetariana radical, que só come cereais integrais, etc. Longe disso!

Ah, você come as chamadas "bobagens" também?
Claro! Eu tenho os mesmos problemas de alimentação que todo mundo! Quando fico angustiada como muito... e adoro chocolates, doces, batata frita... tudo o que faz mal! Tive uma fase em que engordei bastante, aí precisei aprender a comer outras coisas, porque já estava enjoada de omeletes!

***
Iris presenteou este Anastácia com receitas e fotos deliciosas. Concebeu muitos pratos durante estágios universitários, especialmente um que teve um tema de nome compriiiido: "Elaboração de um manual de alimentação vegetariana para estabelecimentos de restauração e bebidas". Mas vamos por partes. Por ora, fique com o pastel de tofu, feito e fotografado por ela e que foram elaborados com:

- tofu triturado com alho e sal de ervas da figueira da Foz (das Salinas Eiras largas)
- batata cozida e desfeita
- cebola picada
- salsa picada
- ovo
- azeite
- óleo para fritar


6 comentários:

Ana Soesima disse...

Oi meninas! Amei a entrevista..principalmente saber que vegetarianos tambem pecam...kkk..Ser feliz eh tudo de bom e a Iris me parece muito feliz com sua vida vegetariana! Sugiro pastel de tofu na proxima classe! Beijos

Ma Caruso disse...
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Ines Garçoni disse...

Ai, caramba, apaguei sem querer um comentário... Impossível voltar atrás. Mas era da minha amiga-irmã Marina Caruso e dizia algo super fofo como "parabéns pela entrevista", "saudades". Valeu, Má, e foi mal... beijos!

Mafalda disse...

Você acredita que seu amigo Arruda anda frequentando um restaurante vegetariano no Centro do Rio? E anda feliz da vida. A decisão pela vida um pouco mais saudável só vai por água abaixo às sextas-feiras, dia de feijoada! Adorei a mocinha.
Beijo!

Ines Garçoni disse...

Mas nem se eu desse de cara com ele num vegetariano em plena uruguaiana... não acreditaria! hhahahaha! mas sério, ainda bem que tem a feijoada na sexta, senão ninguém merece... beijos, gatona, saudades.

Beatriz Pessoa disse...

Ai, fique sabendo que do outro lado do oceano atlântico, aqui no Brasil, tem mais alguém que NUNCA comeu carne!! Eu!
Ahh essas são mesmo um perigo!
Mas sabe, nunca cogito sequer experimentar, aquilo simplismente (inclusive visualmente falando) não é comida pra mim!
A diferença é que eu sofro muito para comer fora. Ainda não aprendi a comer outras coisas vegetarianas!