A única coisa que eu não gosto no livro "Meditando na Cozinha - crônicas & receitas", de Sônia Hirsch, é o gerúndio do título. O resto é só alegria. Sônia escreve de um jeito simples e acerta o ponto exato ao falar da beleza do ato de cozinhar. É de ler numa sentada. Só um trechinho interessante, sobre panelas mineiras (olha os mineiros aí de novo), meditação, cozinha e alma:
"Os japoneses têm longa tradição tanto na arte de meditar quanto na de lidar com vegetais, produzindo lindos pratos a partir das formas, cores e texturas que oferecem ao paladar. Têm também as melhores facas e tábuas, e uma infinidade de utensílios impensáveis antes e indispensáveis depois - pequenos raladores para gengibre, descascadores, peneiras de bambu, colheres, espátulas, pinças, recipientes para cozinhar no vapor - enfim, a boa loja de produtos japoneses é a disneilândia da cozinha.
Agora, no tocante a panelas, sejamos Brasil: as de pedra-sabão, mineiras, são imbatíveis. Feitas de uma coisa completamente natural, pedra, curada no forno com outra coisa completamente natural, óleo. Pesadas. Não pode lavar com detergente porque entranha, só sabão e esponja. Em compensação, nenhuma outra panela vai refogar cebolas no azeite com tanta ternura quanto a de pedra: devagar, cozinhando cada partícula de cebola até deixá-la doce e transparente, e se continuar fica dourada e vira manteiga de cebola, uma coisa maravilhosa para passar no pão. (Não rende, ponha no mínimo dez cebolas.)
Importantíssimo no ritual da cozinha: não perturbá-la batendo colheres na boca das panelas, fazer tudo silenciosamente. A leveza ao pousar a tampa no bule ensaia a leveza da vida. Mexer uma panela prestando atenção é igual a desenhar uma mandala, faz efeito no ser inteiro.
Comida e alma se dão muito bem. Cozinhar pode ser uma prática tão rica em significados e insights quanto qualquer outra. Além de acalmar a mente, como toda meditação que se preza."
Um comentário:
Alimentar é amar...Se há fome, não há amor...Simples, não...
Beijos, mané...
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