É o seguinte, vê se faz sentido: não tem aquela história de que o cachorro se parece com o dono? Pois é. A comida também é a cara de quem come. Eu nunca tinha sequer visto um tcheco, assim, cara a cara, mas quando botei os pés aqui, pedi informação para um, falei rapidamente com outro e pensei, antes do almoço: estes caras são ruins, bicho. Ruim no sentido de osso duro de roer, uma gente brava, forte, valente. Imagine o estereótipo de um alemão. Agora emagreça o alemão alguns quilos, afine os traços dos rostos, abaixe um pouco (só um pouco) a estatura, mantenha a cor de pele e escureça os olhos. Ah, sim, coloque rugas. Os tchecos parecem estar sempre mal humorados, mas acho que eles são assim mesmo. A sensação que tenho é a de que guardam uma energia poderosa, pronta para estourar a qualquer momento. Uma espécie de energia no melhor estilo Jan Palach, que ateou fogo ao próprio corpo, em 1969, para protestar contra a ocupação soviética.
Enfim. O que a comida tem a ver com isso... Sentei num restaurante e examinei lentamente o carápio, em inglês, thanks, God. Só pratos poderosos, de sabores fortes: pato, porco, goulash, tudo com muita páprica picante, tomate, mostarda. O que quero dizer é que a comida que os tchecos adoram tem absolutamente tudo a ver com eles. A cena de um tcheco devorando um um pato, por exemplo, é extremamente harmoniosa. Ah, tem só uma coisa que não combina... já que nem tudo é perfeito. As porções nos restaurantes estão mais para francesas que para alemãs. Mas aposto que em casa eles gostam de fartura.
A foto aí em cima é do goulash. Para atender ao pedido de minha mãe (pedido de mãe, e ainda com saudades, tem que respeitar, né?), vou caçar uma receita de goulash amanhã por aqui, porque, segundo ela, "os do Brasil devem ser diferentes". Então, vai só a foto hoje. Este prato é para corajosos, de molho bastante espesso e carregado na páprica picante. Esta espécie de bolo que se vê aí em volta é feito de batatas. Pesaaaado... Mas necessário, porque é quase sem tempero e serve mesmo para equilibrar os sabores.
2 comentários:
Mané, eu quero a força da tcheca...
Muitos beijos...
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